isto que vejo
aquilo que sinto
sempre tem sido
agora supérfluo
acaba-se
antes
de
começar
suor frio
me refresca
ardendo
todo o foco
vai se perdendo
aqui e em qualquer lugar
ah se elas soubessem
o que perdem para sempre
esgotariam-se em arrependimento
e eu me acabaria em perdão
não há motivo para não ter confusão
nem o divino é tão convícto
queria poder a tudo esquecer
ou fingir que não houve
mas não posso meu outro eu é mais forte
aquele que escolhe sem os olhos
e só me avisa quando não há tempo de voltar
a terceira dose é fatal
confina-me a própria solidão
renegam me diariamente
como quem soca
três vezes a madeira
pra livrar-se de mau presságio
e expurgaram minha presença
banindo do algo
o pouco que sou
enquanto duro
só a mim referem
quando em delírio
se corrompem
é certo que sou
tão bom para ser
verdade concreta
minha virtuosidade assusta
até o mais ingênuo
do meu silêncio se alimenta
o maior dos estrondos
o melhor dos espelhos
envergonha-se em não conseguir
a mim reproduzir
todas as pestes
e todas as pragas
hão de amaldiçoar
os que abusam de minha boa vontade
ofusca-se a deturpada visão
porque nunca quis ver
hei de superar a poética da auto flagelação
a dúvida é se após isso ainda terei coração
ou me tornarei mais um desses cegos infames
sem lembranças do que um dia enxergava
abria mão de si e nada esperava
em troca só o que enfim
não se mantesse
ou não voltasse a se manter
quem me dera um dia inteiro
para sentir saudade só do que nunca tive
duas voltas do ponteiro menor
e completas
sem pensar no antes no agora no depois
fazer de um instante
só isso nada mais
nada além do facilmente visivel
nada longe do que posso predizer
se nunca foi porque hoje há de ser
cada vez que se repete o ciclo
tudo é inédito
só as sombras já não me são estranhas
piso cada vez mais firme
mesmo tendo me tomado o chão
enxergo muito além da superfície
que turva nossa fosca visão
passaria eternamente sem ter escrito
mais a eternidade não passaria
se escrita não fosse
por isso que tudo que passa
um pouco fica
como cicatriz desbotada
que nunca chama atenção
quando atenção para mim encontrar
sumo sem noticia dar
corro e fujo do meu lugar
pra enfim construir outro lar
nunca mais escondo a cara
continuarei fazendo com que todos
escondam as suas
como sempre foi
temam me pois até eu me temo
sendo um como se fosse só
sendo e tendo tudo
mas tendo e sendo em vão
como haveriam de ver
o que não mostro
pois é segredo?
sei tão bem esconder
como sabem esconder em mim
só que sempre acho pouco
se fosse para ser bom e o bastante
não seria na rua e de graça
queria que esses versos
me trouxessem de volta
o verão
não o de nossa ardua discórdia
mas o de teus verdes olhos
contemplando-me logo ao amanhecer
fazendo-me sentir como em um parto
esquecendo toda lembrança
antes daquele momento
maravilhosamente nosso
que eramos mesmo que pequenos
criavamos mundo nas mãos
nada tinhamos pois nada queriamos
e verdadeiramente assim
apenas por nós nos bastavamos
foi-se o verão
assim como foi-se o encanto
da nossa convergência de sonhos
que agora só se dá por concessão minha
já não é a impetuosidade expontânea
que me fazia são deilirar
já não arde nem quando acorda
nem quando discorda
saturei-me deste fogo frio
e libertando-me cresci tanto
que já não caibo no meu corpo
transbordo pela boca a essencia
que escarro em disperdicio
pra evitar atraso por sobrepeso
são cerca de três horas
esta hora costuma nascer
os poemas que mais gosto
mas acho que este não é o caso
não como semana passada
não como a um mês atraz
enfim o que explica essa
enganosa relação temporal
entre meu gosto e a inspiração?
talvez porque nunca tenha
olhado de fato o relógio
so dito
ah devem ser umas tres
explica tão bem que me cala aos berros
falando muito sem querer nada dizer
há de fato alguem a entender
estas linhas não estas últimas
mas o conjunto delas
relacionadas a ausência
do exclusivo
do único
e do normal
terça-feira, 22 de maio de 2007
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2 comentários:
crônica, conto, poesia, música ou diário ?
=]
enel ... el mago
bons textos
valeu!
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